As zonas de fronteira do Brasil têm a história das línguas divididas em duas condições fundamentais: as fronteiras geopolíticas e a história de contato dessas línguas.
As zonas geopolíticas são marcadas por conflitos, sendo que são marcados tanto por armas quanto por diplomacia. Ainda assim, a situação da língua portuguesa e espanhola (já que o Brasil tem fronteiras, em sua maioria, com países de língua espanhola) nessas zonas é desconhecida. Algumas histórias são, inclusive, anteriores à mistura com o Brasil, como por exemplo a zona de fronteira do Brasil e Uruguai, onde o processo de nascimento do portunhol se deu.
Essas fronteiras são espaços desterritorializados e por isso tem-se esse contato de diversas línguas, culturas, modos de vida, etc. O que ganha destaque são as línguas oficiais, o que não significa que seja equivalente à situação étnica, ou seja, não quer dizer que o português ou o espanhol sejam de fato a língua dominante entre a população.
Um exemplo disso é o próprio portunhol, que surge da união do português e da língua espanhol. Esse portunhol praticado, contudo, não é visto como uma língua, pois ela não é nativa, não é a do imigrante, nem a do Estado, resultando e sendo resultado apenas do intenso convívio, nunca tendo sido aceita como uma língua oficial.
Portunhol não é língua porque é difícil defini-lo; seus sentidos foram constituídos pelo senso comum – o que não é visto com bons olhos, tendo uma carga negativa. Ele pode ser caracterizados como um dialeto português do Uruguai. Essa seria uma outra “terceira língua.
Outro ponto de vista é a da “interlíngua”, que se relaciona com a aquisição do espanhol pelos brasileiros, como se o portunhol fosse uma fase intermediária entre o português (língua nativa dos brasileiros) e o espanhol/castelhano (língua nativa do Uruguai) principalmente.
Como cita Sturza, “a política das línguas está nesse espaço das práticas lingüísticas que não se resume à dualidade português-espanhol, mas que se enunciam nesse espaço configurado pela diversidade lingüística” (2005).
Desta forma, podemos concluir que a língua das fronteiras é outra, nem portuguesa, nem espanhol. Logo, o portunhol seria um dialeto de base portuguesa, hispanizado. Vemos então que não há uma homogeneidade lingüística nessa região de fronteira.
*Texto baseado no artigo “Línguas de fronteira: o desconhecido território das práticas lingüísticas nas fronteiras brasileiras”, de Eliana Rosa Sturza.
Autores:
Giovana Moretti
Letícia Conde
Manolo Funcia
Pamela Todesco