A política de línguas presente nos jogos online

Gostaríamos de iniciar uma discussão sobre a linguagem usada por jogadores do gênero MMO (massive multiplayer online), para mostrar a grande influência do inglês sobre as demais línguas. Pensando mais a respeito  da relação entre línguas e seus embates, vamos pensar no funcionamento da língua em determinado jogo de MMO, notamos que nesse espaço virtual onde se dá o jogo, há predominância da língua inglesa ou seu uso é feito se em um servidor de um jogo têm mais falantes da língua inglesa.  Para compreender melhor o papel da política linguística nesse meio,  veremos o que Orlandi diz a respeito das diferentes configurações que as políticas linguísticas assumem:

    1. “Como razões de Estado, das Instituições: o que coloca o princípio da unidade como valor.
    2. Como razões que regem as relações entre povos, entre nações, entre Estados: o que coloca o princípio da dominação como valor.
    3. Como razões relativas aos que falam as línguas: o que coloca o princípio da diversidade como valor.” (Orlandi, 1998)

É interessante também definir os seguintes conceitos para melhor compreensão da língua e o uso que é feito dela nos jogos:

Língua Materna: é a língua cujos falantes a praticam pelo fato de a sociedade em que se nasce a praticar; seria a primeira língua para seus falantes.

Língua Alheia: é toda língua que não se dá como materna para os falantes de um espaço de enunciação.

Língua Franca: é aquela que é praticada por grupos de falantes de línguas maternas diferentes, e que são falantes desta língua para o intercurso comum.

Língua Nacional: é a língua de um povo, enquanto língua que caracteriza, que dá aos seus falantes uma relação de pertencimento ao seu povo.

Língua Oficial: é a língua de um Estado, aquela que é obrigatória nas ações formais do Estado, nos seus atos legais.

Língua Estrangeira: É a língua cujos falantes são o povo de uma Nação e Estado diferente daquele dos falantes considerados como referência.

O seguinte quadro apresenta algumas ocorrências de estrangeirismos e vocabulário específico utilizado pelos jogadores nos jogos ao longo das partidas:

Expressão Significado no jogo Tradução
Lag Tipo de lerdeza, atraso no jogo Atraso
Uppar ou Upar Progredir, avançar, ficar mais poderoso no jogo “To up” “para cima”
Loner Jogador que se isola dos companheiros de jogo Sozinho, solitário
Noob Quem não sabe jogar direito Novato
Top Player Quem sabe jogar bem Ótimo jogador
Singlar Matar um monstro sozinho, sem ajuda de outros jogadores Por conta própria, sozinho
Nice Legal Legal
Quest Missão, cumprir uma missão dada no jogo Missão
PK Player Killer – Aquele que mata todos os jogadores Matador de jogadores

Com isso, pudemos concluir que no espaço de enunciação virtual em que se dá o jogo, é tido como resultado do embate entre línguas, algo que não pertence a língua inglesa e nem a portuguesa.  Também é possível notar o uso de algumas palavras reservadas à esse meio virtual e seu funcionamento nos diálogos existentes nos jogos, no geral são palavras originárias de uma língua mas que são usadas em outro espaço de enunciação de outra língua ganhando outros significados e até mesmo variações na sua estrutura.

Autores:

André Sato

Gustavo Tapia

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O Portunhol na fronteira do Brasil com o Uruguai

As zonas de fronteira do Brasil têm a história das línguas divididas em duas condições fundamentais: as fronteiras geopolíticas e a história de contato dessas línguas.

As zonas geopolíticas são marcadas por conflitos, sendo que são marcados tanto por armas quanto por diplomacia. Ainda assim, a situação da língua portuguesa e espanhola (já que o Brasil tem fronteiras, em sua maioria, com países de língua espanhola) nessas zonas é desconhecida. Algumas histórias são, inclusive, anteriores à mistura com o Brasil, como por exemplo a zona de fronteira do Brasil e Uruguai, onde o processo de nascimento do portunhol se deu.

Essas fronteiras são espaços desterritorializados e por isso tem-se esse contato de diversas línguas, culturas, modos de vida, etc. O que ganha destaque são as línguas oficiais, o que não significa que seja equivalente à situação étnica, ou seja, não quer dizer que o português ou o espanhol sejam de fato a língua dominante entre a população.

Um exemplo disso é o próprio portunhol, que surge da união do português e da língua espanhol. Esse portunhol praticado, contudo, não é visto como uma língua, pois ela não é nativa, não é a do imigrante, nem a do Estado, resultando e sendo resultado apenas do intenso convívio, nunca tendo sido aceita como uma língua oficial.

Portunhol não é língua porque é difícil defini-lo; seus sentidos foram constituídos pelo senso comum – o que não é visto com bons olhos, tendo uma carga negativa. Ele pode ser caracterizados como um dialeto português do Uruguai. Essa seria uma outra “terceira língua.

Outro ponto de vista é a da “interlíngua”, que se relaciona com a aquisição do espanhol pelos brasileiros, como se o portunhol fosse uma fase intermediária entre o português (língua nativa dos brasileiros) e o espanhol/castelhano (língua nativa do Uruguai) principalmente.

Como cita Sturza, “a política das línguas está nesse espaço das práticas lingüísticas que não se resume à dualidade português-espanhol, mas que se enunciam nesse espaço configurado pela diversidade lingüística” (2005).

Desta forma, podemos concluir que a língua das fronteiras é outra, nem portuguesa, nem espanhol. Logo, o portunhol seria um dialeto de base portuguesa, hispanizado. Vemos então que não há uma homogeneidade lingüística nessa região de fronteira.

*Texto baseado no artigo “Línguas de fronteira: o desconhecido território das práticas lingüísticas nas fronteiras brasileiras”, de Eliana Rosa Sturza.

Autores:

Giovana Moretti

Letícia Conde

Manolo Funcia

Pamela Todesco

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ARGUMENTAÇAO, TEXTUALIDADE E ESPAÇO DE ENUNCIAÇÃO NO ESTUDO DE RELAÇÃO ENTRE LÍNGUAS: MODOS DE FUNCIONAMENTO DO POLÍTICO E DO ACONTECIMENTO – Projeto 2011-2014

Pesquisador Responsável: Profa. Dra. Soeli Maria Schreiber da Silva
(DL/CECH/UFSCar)

Instituição Sede: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Resumo: Este projeto regular objetiva: a) refletir sobre três conceitos importantes para a área da Semântica do Acontecimento . argumentação, textualidade e espaço de enunciação ., e b) refletir como esses conceitos se articulam no estudo da relação entre
línguas e da enunciação. Nessa perspectiva teórica, a enunciação é pensada como um  acontecimento de linguagem que se dá em um espaço de enunciação. Assim concebida, ela interroga a língua enquanto exposta ao seu real, isto é, enquanto lugar de textualização do político. A partir dessas considerações, trabalhamos com uma hipótese de pesquisa de que o
político é, então, constitutivo tanto da argumentação, quanto da textualidade, quanto do espaço de enunciação, e é seu funcionamento no acontecimento enunciativo que cria as
condições para se pensar a articulação entre esses três conceitos. A metodologia pela qual optamos consiste em trabalhar, sobretudo, com os procedimentos de reescrituração e
articulação, tal como concebidos por GUIMARÃES (2007, 2009), num corpus sobre a Língua Polonesa no Paraná. O projeto vai desenvolver-se juntamente com outros projetos de relação entre línguas desenvolvidos na Unidade de Pesquisa em Estudos Históricos, Políticos e Sociais da Linguagem (UEHPOSOL). Constituir-se-á, então, sob a responsabilidade da pesquisadora Prof.ª Dr.ª Soeli Maria Schreiber da Silva, da UFSCar, com a colaboração de alunos do mestrado e doutorado em Linguística.

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